Eu tive uma infância e uma adolescência extremamente feliz, talvez pelo fato de não precisar da nada além de mim mesmo para me sentir de tal forma. Bastava acordar de manhã, ir para a escola, voltar, dever de casa, rua, banho, mais um pouco de rua, outro banho e cama.
Talvez meus pais não tenham percebido mas fui
(ou me senti) a pessoa mais amada do mundo. A zona de conforto era
enorme. A bolha me protegia.
Mas lá no fundo eu sabia que (in)felizmente
não seria sempre assim. Sensibilidade, mediunidade, necessidade de
transgressão, seja lá o que for, me davam indícios de que nada
seria daquela forma para sempre. Era melhor aceitar, porque as
pedras viriam e aprender a me desviar ou curar suas marcas seriam a
única forma de seguir adiante.
No inicio da adolescência (com os hormônios à
flor da pele), comecei a questionar os rumos que a minha vida
afetiva/sexual tomariam. Se você leitor, nasceu a partir dos anos
90, provavelmente não sabe o que era ser gay naquela época.
Resumindo: Ou você era a “bichinha do bairro” que levava
pedrada, aquele que se enrustia dentro de um casamento, ou aquele
condenado a se contentar com as migalhas de alguma aventura sem
qualquer perspectiva de afeto.
Não tinha força suficiente para ser a
“bichinha” do bairro, nem tanta covardia ou hipocrisia necessarias para o enrustido, muito
menos vocação para um pombo que se contenta com migalhas que as vezes o outro joga (Sabe
aquela sensação de carência absurda, onde surge alguém que só
quer te usar, te dá um sorriso, passa a mão na sua cabeça e você
logo de cara se apaixona, em vão embora. Depois voltam e te dão
mais algumas migalhas, a ponto de se tornar um ciclo vicioso?).
Não tinha jeito, teria que me bastar.
Aprender a amar e viver para si próprio talvez tenha sido o único
meio de não enlouquecer na tentativa de responsabilizar o outro por aquilo
que deveria fazer a mim mesmo
É claro que fiz tudo ao contrário...rs.
Veio o destino e me trouxe pessoas dispostas a me por em prova com
relação a toda aquela auto-estima até então blindada por uma
falsa proteção daquilo que sentia.
Devo confessar que tudo o que foi vivido (e principalmente sentido) foi essencial no processo de construção da
minha auto-estima. Empatia, raiva, altruísmo, empolgação, expectativas, ansiedade, hipocrisia, medo,
ciúmes, lealdade, carater, mentiras, se apresentaram misturados num
shake dificil de ser digerido mas que me foi empurrado goela abaixo.
No primeiro relacionamento desejei tudo aquilo
que me ensinaram (Segundo Regina Navarro Lins, o tal do “amor
romântico”).
No segundo, esperei tudo o que eu queria.
No terceiro, o que eu preciso...
Não vou aqui discutir a diferença entre os
três, afinal seria dar murro em ponta de faca dizer para alguém que
o que ele precisa está bem longe do que ele quer ou deseja. Desejar
ou querer depende exclusivamente do outro responder às “nossas”
expectativas.
Nada (nada mesmo) acontece por acaso, só não
podemos insistir nele, que na maioria das vezes nos aparece apenas
para mostrar algo, e não ficar para sempre.
Só me tornei quem eu sou, em parte, graças a
cada uma dessas pessoas que passaram pela minha vida, não há como
acusa-las de cada tapa que levei, sendo que fui responsável em
permitir com que me levantassem a mão.
É preciso ter amor de verdade (não o amor romântico). É preciso ter paz. É
preciso ter tranquilidade, equilibrio. Ou como diria Antoine
de Saint-Exupéry
“É
preciso que
eu suporte duas
ou três
lagartas
se
quiser conhecer as borboletas”.
Talvez se
tivesse feito tudo da forma que havia planejado lá em 1989,
realmente tivesse sido bem mais fácil. Talvez naquela época
enquanto ouvia Live to tell, algo
já me dizia pra escolher entre o fácil e o desconhecido.
Nunca
gostei de coisas fáceis....
Anderson, casa comigo?
ResponderExcluirTenho certeza de que se você me conhecesse, mudaria de ideia...
ExcluirNãoooo. Não se faça de dificil. rs. Já sei, pra escrever coisas tão produndas, com certeza voce já deve ter alguem que te inspira
ExcluirTudo bem. Aceitarei a minha condição platonica.
Excluirrs. Muitas coisas me inspiram, a vida, relacionamentos, sentimentos, emoçoes, pessoas!
ExcluirE quando é que a gente sabe o que realmente precisamos, Anderson?
ResponderExcluirQuando deixamos de nos iludir com qualquer coisa que nos ofereçam!!!
ExcluirMeu lindo!!! Te amo.
ResponderExcluirMeu lindo!!! Te amo.
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