As vezes é preciso escrever. Mais que isso, é necessário. Colocar no papel faz com que algo se perpetue além das nossas lembranças. Tudo deve ser registrado, tanto o aprendizado das frustrações e decepções quanto às alegrias de sermos surpreendidos pelo mais distante, e cada vez mais raro, momento de alegria que nos preenche. Nos preenche não, nos transborda.
Nessa
última situação, em que nos transbordam aquela alegria ou
felicidade contagiante, dizem que não é bom escrever, se expor,
afinal os outros podem ficar com inveja, mandarem energias negativas,
colocar quebranto. Chega né? O que não falta por aí é gente se
lamentando, se fazendo de vitima, na grande maioria das vezes
colocando a culpa no outro pela infelicidade que buscou sozinho, sem
a ajuda de ninguém.
Vou ser
feliz sim. Vou escrever sobre isso, sim. Vou expor minhas alegrias,
sim. Porque ainda tem muita gente que consegue ser feliz com a
alegria dos outros.
De vez
em quando me recuso a olhar as redes sociais, tamanha é a competição
entre aqueles que se acham mais infelizes ou “sem sorte” que os
demais. Só não se dão conta de que nessa competição ninguém
ganha nada. Engraçado (ou triste) é que tais pessoas não escrevem
nada, apenas compartilham a tristeza (ou o fracasso) alheio daquelas
paginas de autoajuda (ajuda?). Talvez se escrevessem o que
realmente sentem perceberiam o que estão realmente fazendo a si
próprio.
O ato de
escrever é libertador. Tirando o fato de aumentar o raciocinio, o
vocabulario, a criatividade e a melhora na forma de se comunicar, a
escrita tem o poder de conseguir exteriorizar aquilo que estamos
sentindo, da forma como somos, nos vemos ou como nos mostramos aos
outros, deixando-nos nús de nossos medos, paranóias e preconceitos
(sim, ainda temos).
Certa
vez fiz um exercício. Há alguns anos atras, durante um dia inteiro
resolvi anotar, numa folha de papel, minhas mentiras, fofocas, intrigas
ou algo que pudessem de alguma forma fazer mal a mim ou
principalmente ao outro.
O
resultado foi surpreendente. E vergonhoso. Eu, em toda a minha
maturidade moral e/ou espiritual me deparei com as mesmas falhas em
que insistia em apontar no outro.
Pânico.
Vergonha. Medo.
Seria eu
também reflexo daquilo que eu vejo? Seguindo o mesmo padrão dos
homofóbicos que insistem em matar no outro aquilo que é latente em
mim e que insisto em esconder?
Não.
Ou continuaria no armário da hipocrisia ou assumiria a mudança.
Preferi a segunda opção. A mais difcil. E eu adoro o difícil.
Sou movido a desafios, odeio o marasmo, a zona de conforto.
Durante
a ultima semana alguém me lembrou de algo que havia dito há algumas
décadas: “Se ninguém te ouve, escreva!”. Há alguns
dias usei algo semelhante. Ao perceber a necessidade de alguém se
abrir, mas não conseguir (o motivo nunca tem a menor importância),
mandei um “Se você não consegue dizer, escreva!” .
Uma
frase escrita pode significar o antes e o depois da vida de alguém,
pois ela pode significar não apenas sinais gráficos, mas uma especie
de reconhecimento, auto analise. É incrível ser testemunha da
evolução, da libertação e maturidade de outra pessoa através de
uma simples frase com apenas algumas palavras. Já imaginou como nos
sentiríamos ao ver a alegria do outro ao nos libertarmos de alguma
forma por meio de uma carta, e-mail, bilhete, mensagem no whatsApp?
Escrever
é um exercício diário.
E que
mania é essa que termos que ter um motivo especifico para escrever
algo para alguém?
Um “oi”,
um “durma bem”, ou um “saudades de você”,
podem significar bem mais que a mais linda (e extensa) carta de amor
copiada no google ou de alguma pagina de auto-ajuda (aquelas que não
ajudam em nada).
Um “me
desculpe”, um “sinto muito”, as vezes é bem mais
importante ser dito do que ficar extendendo por muito tempo o rancor
ou o orgulho por alguém envolvido em algum tipo de mágoa, alimentar
o “a culpa foi dele” ou o
“EU estou certo”,
não irá resolver a situação.
Por
meio da escrita temos a chance de assumir nossa vulnerabilidade, ao
invés de nos mostrar frágeis, nos torna humanos, e se você é
humano com certeza não será forte o tempo todo, mas isso não te
impede de viver, errar e aprender. E o aprendizado, embora na
maioria das vezes precise da colaboração de terceiros, pode vir de
si próprio. Melhor começar a olhar mais para dentro de si do que o
outro né?
Preste
mais atenção em você. Jogar a culpa é outro é bem mais fácil,
mas só assumindo os próprios erros, se perdoando e perdoando ao
outro é que conseguiremos seguir em frente, livres daquelo peso que
na maioria das vezes insistimos em carregar nas costas.
Essa é
a minha forma de me libertar, pra mim escrever funciona.
Tente.
Quem sabe não dá certo....?
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