Vez ou outra, ao voltar da faculdade, eu e alguns
outros passageiros nos espantamos com a atitude de um dos motoristas do ônibus
que nos leva até o metrô.
E o motivo de tanto espanto se trata única e
exclusivamente da educação do mesmo.
Isso mesmo... educação, e não a falta dela.
Que época é essa a qual chegamos, onde achamos
estranho quando alguém que não nos conhece, nos cumprimenta com um simples “Boa
Noite”?
Enquanto alguns admiram e retribuem essa
gentileza, outros passam direto, poucos respondem enquanto a grande maioria o
chama de louco (claro que longe dos ouvidos dele).
E ele insiste, por mais que os passageiros do
ponto anterior não respondam, no próximo ele cumprimenta com a mesma
boa-vontade.
É visível como o simples “boa noite” de alguém
que está ralando num transito como o de São Paulo, tem o poder de desarmar a cara
amarrada de algumas pessoas. Tambem é visível
como existem pessoas amargas e mal-humoradas a ponto de nem ao menos acenarem
com qualquer gesto.
Garanto que para algumas pessoas, se a pessoa
em questão fosse alguém “mais elitizado” que um simples motorista de ônibus, a
resposta, bem como o sorriso, seria imediato.
Na minha adolescência trabalhei numa famosa
rede de lanchonetes onde para 99% dos funcionários, a pior das funções não era
lavar o banheiro ou ficar o dia inteiro na chapa, mas sim cumprimentar os
clientes que entravam na loja, talvez pelo simples fato de que tais clientes,
na grande maioria das vezes, nos ignorava.
Certa vez estava na balada quando me aproximei
de uma garota, a cumprimentando com um: “olá estava do outro lado do balcão e...!!!”
Ela imediatamente me barrou da seguinte forma: “olha não leve a mal, mas estou
com alguém”, no que prontamente respondi: “Tudo bem, só vim dizer que sua
comanda caiu da bolsa”. Não sei o que
foi pior para ela: perder a comanda ou ter cair na real de que ela não é tão
desejada assim. A velha história do “Sou
legal, não estou te dando mole”. Claro,
depois ela se desculpou pelo comportamento, e saiu pela tangente dizendo que
estava brincando. Coitada, mal sabe ela (risos)...
Temos o péssimo habito de acreditar que
qualquer pessoa que nos trate bem, quer algo em troca.
Alias chegamos ao ponto de querer retribuir de
alguma forma pelo trabalho realizado da forma correta, sem mais nem menos. Explico.
Certa vez estava no hospital, quando uma paciente apareceu com uma cesta
de flores para a medica e uma cesta de café de manhã para os funcionários da
enfermagem. Questionada o porquê de tal
atitude, a mesma foi taxativa: “É porque fui bem tratada”. Ou seja, a equipe, a qual inclusive eu fazia
parte, não fez nada demais, a tratou como qualquer outro paciente. Mas devido a tantos outros colegas que a
trataram com descaso, ela achou por bem nos recompensar de alguma forma.
O que não falta são exemplos de pessoas que
causam espanto por tratar o próximo de forma digna, infelizmente também não faltam outros que ao
observarem essas pessoas se lamentam: “Que gesto bonito, também queria poder
fazer algo parecido”...seria cômico se não fosse ridículo...
Voltando ao motorista, ao chegar no ponto
final da linha, ele agradece a cada um dos passageiros desejando-lhes bom
descanso. Enquanto cada um de nós volta
para casa, passando uns por cima dos outros, ele faz o retorno com o ônibus e
começa a viagem novamente, com a mesma educação que ele insiste em compartilhar
com cada um de nós. Resta-nos decidir o
que fazer com a lição que ele insiste em nos ensinar, continuar ignorando-o,
chamando-o de louco, ou coloca-la em pratica.
Acho mais legal coloca-la em pratica, ainda prefiro ser chamado de
louco, a ser ignorado ou mal educado...
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