E aí chegou dezembro. O mês em que
eu mergulho de cabeça nas emoções geradas por uma crise
existencial que sempre acompanha meu aniversário e as festas de fim
de ano.
Não sei lidar com o outro, nem ao
menos comigo mesmo.
É o mês da introspecção. Onde
todas as emoções afloram. Onde os corais natalinos se tornam uma
desculpa para o choro acumulado, ou a falsa caridade de alguns trazem
embalados junto aos pacotes de presentes, a raiva daqueles que não
conseguem viver longe da hipocrisia e do falso altruísmo natalino.
É o mês onde apenas Clarice, Caio e
Bukowski me entendem ou refletem o que estou vivendo no momento.
É o mês onde grito absurdamente por
ajuda, mas talvez pelo fato do grito ser silencioso, ninguém me
ouve, me forçando a retirar mais uma vez do armário a máscara do
“tá tudo bem”. Não, não está. E talvez eu não
queira falar sobre, ou ouvir coisas do tipo “vai ficar tudo bem”, "é frescura" ou “ você não tem motivos para isso”. Não, o outro nem sempre sabe ouvir sem sequer apontar ou julgar.
É o mês onde não quero responder:
“Está tudo bem”, mesmo quando sabem que não estou e não quero, ou não preciso, dizer o motivo. Apenas me abrace por eu não estar bem.
É o mês em que a bateria está na
sua carga mínima esperando que alguém a troque, porque nem sempre consigo recarrega-la sozinho.
É o mês em que nem sempre as
congratulações pelo aniversário, Natal ou Ano Novo, me convencem,
onde todos aqueles elogios pela pessoa que eu sou, veem carregados de
uma responsabilidade ainda maior em corresponder a expectativa do
outro em relação a mim.
É o mês em que não faço balanço
do ano que passou, pois tudo o que aconteceu foi para o meu
crescimento.
O mês em que não faço planos
para o futuro, pois a frustração só aparece para aqueles que criam
expectativas.
É o mês onde uma mensagem não
respondida, pode soar como indiferença.
Onde qualquer mentira, mesmo quando
insistam, ou sabemos que é verdade, me agride a ponto de desacreditar cada vez
mais nas pessoas.
Onde fico triste por subestimarem a
minha inteligência, a minha humanidade ou a minha admiração.
Onde a ausência se faz presente
mesmo num ambiente cheio de gente, cercado por “coisas boas”.
Onde aflora a necessidade de me
sentir amado. E sentir é completamente diferente de ouvir que se é.