segunda-feira, 29 de agosto de 2016

1989...

   

  Eu tive uma infância e uma adolescência extremamente feliz, talvez pelo fato de não precisar da nada além de mim mesmo para me sentir de tal forma. Bastava acordar de manhã, ir para a escola, voltar, dever de casa, rua, banho, mais um pouco de rua, outro banho e cama.
    Talvez meus pais não tenham percebido mas fui (ou me senti) a pessoa mais amada do mundo. A zona de conforto era enorme. A bolha me protegia.
    Mas lá no fundo eu sabia que (in)felizmente não seria sempre assim. Sensibilidade, mediunidade, necessidade de transgressão, seja lá o que for, me davam indícios de que nada seria daquela forma para sempre. Era melhor aceitar, porque as pedras viriam e aprender a me desviar ou curar suas marcas seriam a única forma de seguir adiante.
     No inicio da adolescência (com os hormônios à flor da pele), comecei a questionar os rumos que a minha vida afetiva/sexual tomariam. Se você leitor, nasceu a partir dos anos 90, provavelmente não sabe o que era ser gay naquela época. Resumindo: Ou você era a “bichinha do bairro” que levava pedrada, aquele que se enrustia dentro de um casamento, ou aquele condenado a se contentar com as migalhas de alguma aventura sem qualquer perspectiva de afeto.
    Não tinha força suficiente para ser a “bichinha” do bairro, nem tanta covardia ou hipocrisia necessarias para o enrustido, muito menos vocação para um pombo que se contenta com migalhas  que as vezes o outro joga (Sabe aquela sensação de carência absurda, onde surge alguém que só quer te usar, te dá um sorriso, passa a mão na sua cabeça e você logo de cara se apaixona, em vão embora. Depois voltam e te dão mais algumas migalhas, a ponto de se tornar um ciclo vicioso?).
     Não tinha jeito, teria que me bastar. Aprender a amar e  viver para si próprio talvez tenha sido o único meio de não enlouquecer na tentativa de responsabilizar o outro por aquilo que deveria fazer a mim mesmo
    É claro que fiz tudo ao contrário...rs. Veio o destino e me trouxe pessoas dispostas a me por em prova com relação a toda aquela auto-estima até então blindada por uma falsa proteção daquilo que sentia.
   Devo confessar que tudo o que foi vivido (e principalmente sentido) foi essencial no processo de construção da minha auto-estima. Empatia, raiva, altruísmo, empolgação, expectativas, ansiedade, hipocrisia, medo, ciúmes, lealdade, carater, mentiras, se apresentaram misturados num shake dificil de ser digerido mas que me foi empurrado goela abaixo.
    No primeiro relacionamento desejei tudo aquilo que me ensinaram (Segundo Regina Navarro Lins, o tal do “amor romântico”).
    No segundo, esperei tudo o que eu queria.
    No terceiro, o que eu preciso...
    Não vou aqui discutir a diferença entre os três, afinal seria dar murro em ponta de faca dizer para alguém que o que ele precisa está bem longe do que ele quer ou deseja. Desejar ou querer depende exclusivamente do outro responder às “nossas” expectativas.
    Nada (nada mesmo) acontece por acaso, só não podemos insistir nele, que na maioria das vezes nos aparece apenas para mostrar algo, e não ficar para sempre.
   Só me tornei quem eu sou, em parte, graças a cada uma dessas pessoas que passaram pela minha vida, não há como acusa-las de cada tapa que levei, sendo que fui responsável em permitir com que me levantassem a mão.
    É preciso ter amor de verdade (não o amor romântico). É preciso ter paz. É preciso ter tranquilidade, equilibrio. Ou como diria Antoine de Saint-Exupéry É preciso que eu suporte duas ou três lagartas se quiser conhecer as borboletas”.
    Talvez se tivesse feito tudo da forma que havia planejado lá em 1989, realmente tivesse sido bem mais fácil. Talvez naquela época enquanto ouvia Live to tell, algo já me dizia pra escolher entre o fácil e o desconhecido.
      Nunca gostei de coisas fáceis....

Mentira...

       Tem gente que mente.  Tem gente cuja vida é tão mentirosa, que não consegue mais lidar com a verdade.        A gente  mente po...