Então
eu fiz 42 anos. Não me sinto (e nem sou obrigado a me sentir) com
42 anos. Porquê deveria? Como deve agir alguém com 42, 10, 60 ou 90
anos? Odeio seguir a massa, ter que me enquadrar dentro de um
parâmetro imposto sei lá por quem. As vezes quero (e tenho todo o
direito) de me comportar como uma criança, ou um adolescente ou
ainda um idoso. Porque eu sou tudo isso.
Uma
amiga muito querida vira e mexe me pergunta quantos anos eu tenho
(segundo ela, devido ao meu conhecimento sobre assuntos diversos e à
minha sede de conhecimento), outro me disse que tenho uma “alma
velha”.
Aos 22
anos de idade passei por uma EQM (expriencia de quase morte). Num
periodo de uma semana foram 6 transfuões de sangue, fraldas, sondas
nasogastricas e 8kg perdidos. O medicos disseram que não iria para
a cirurgia pois não havia nada a ser feito. Foi
preciso chegar àquela situação pra eu dar tempo ao tempo, passei a
observa-lo. De certa forma ele me cobrava, mas eu, sem tempo pra
ele, achava que não precisava. Aprendi que existe algo chamado
limitação.
Pensei
que não teria mais tempo. Para nada. Não teria tempo de pedir
perdão a quem havia magoado (primeiro tive que reconhecer que
magoava), não teria tempo de me perdoar, de dizer que amava, de
dizer que não gostava, de amar (1, 2, 3 ou mais vezes e cada uma
mais intensa que a outra), tive medo de não encontrar aquele alguém
que ficaria comigo pelo resto da vida, tive medo de não ser pai
(mesmo que “torto”), tive medo de não sofrer, rir, chorar ,
ficar feliz. Tive medo de não sentir.
Encarei
minha recuperação como uma oportunidade de valorizar (e aceitar)
tudo aquilo que tive medo de perder. E a aproveitar TUDO o que
acontece como forma de crescimento. Desde então me recuso a perder
tempo reclamando do ruim ou me prendendo ao maravilhoso. Aprendi a
amar da mesma forma que aprendi a desapegar. É um
exercicio contínuo, onde você começa a filtrar e absorver o que te
faz bem e a tirar como aprendizado aquilo que te faz mal. Por falar
nisso, também aprendi que o mal pode fazer bem. O único mal que
pode me afetar é aquele que faço a mim meso
Decidi
viver cada segundo como se fosse o ultimo, a aproveitar cada momento,
cada pessoa, cada sentimento, afinal ainda estou vivendo um bônus. A
busca por (auto) conhecimento é constante. A vida é um jogo, já dizia Elis Regina, "nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas.... aprendendo a jogar..."
O tempo é um só,
ele começa quando você nasce e termina quando se morre. O resto é
intervalo. Temos a ilusão de vivermos longos anos, sem darmos conta
de que é um periodo único. O calendário, a divisão do tempo em
anos, meses, horas só tem duas funções: lembrar quando é a hora
de descansar e que temos muita coisa a realizar “para ontem”, e
que ainda não temos tempo. Essa divisão só serve para nos
acelerar ainda mais.
O tempo
virou um dos nossos maiores desafios. Ou corre-se contra ele, ou se
deseja que ele passe o mais rápido possível.
Também serve como desculpa para começar a fazer algo na
segunda-feira, mudar de vida no ano seguinte, ou não ver a hora de
esse ano acabar logo. Porquê não fazer isso agora, para que ficar
empurrando com a barriga, esperando que esse tempo faça o que cabe a
você fazer?
Sem
atitude alguma, ou tomar as responsabilidades da sua vida, o
ano novo vai mudar apenas na folhinha do calendário. E quando cair
por si, lá vem você dizer que o tempo voou e que VOCÊ ainda não fez
nada...